sábado, 5 de abril de 2008

DISCURSO DE POSSE DO PRESIDENTE DE HONRA DA A.M.F.

ACADEMIA MOURÃOENSE DE FILOSOFIA

Instala-se hoje, 22 de
novembro a Academia Mourãoense de Filosofia. Aos ilustres acadêmicos que tomam posse o reconhecimento do mérito e o auspício de uma fecunda experiência cultural para a Cidade de Campo Mourão a oportunidade de um desenvolvimento cultural e social no prosseguimento de uma trajetória produtiva traçada pela de estudo e investigação no campo das humanidades sob a orientação sábia e segura dos professores Agenor e Assabido. Quanto a minha pessoa, a honrosa menção de presidente honorário, a incumbência que recebo com gratidão e entusiasmo redobrado.
Por que entusiasmo redobrado? Porque, uma vez mais sinto a confirmação de nossas convicções em nossa postura
acadêmica; Nossas convicções! Minha e vossas, ilustres acadêmicos. Portanto, nossa postura acadêmica!
É nossa plena convicção que em toda postura
acadêmica deve-se privilegiar a investigação científica como inspiração fundamental e a formação humanista como atividade essencial e específica.
Por que privilegiar a investigação científica? Porque essa é a marca da universidade moderna que nasceu precisamente para construir o conhecimento no trabalho conjunto de docentes e
discentes.
Por que privilegiar a formação humanista? Porque o pano de fundo da produção e aplicação do conhecimento é constituído pela preservação e o desenvolvimento da cultura humanista.
Cabe aqui fazer uma diferenciação entre ciência e
cientificismo.
Entende-se por ciência moderna o fruto da capacidade criadora do homem que, pela observação dos
fenômenos da natureza, elabora hipótese inovadora, que, resultando válida, criaria uma mudança da realidade contemplada na hipótese.
Hipótese, portanto, é a suposição de algo valioso que deve ser demonstrado. E a demonstração é fruto de um processo sistemático com base na experimentação e na comprovação, cujo resultado pode ser medido e operacionalizado.
Entende-se por
cientificismo a atitude intelectual, fruto do vislumbramento suscitado pelo surgimento da ciência moderna vista como solução de todos os problemas sociais, supondo que a ciência é algo já construído e que a simples aplicação teria força para reformar a sociedade mecanicamente remodelada.
Resumindo: a ciência é fruto da descoberta e criação da mente humana; o
cientificismo é propaganda da ciência que tem em si mesma a força de oferecer mudanças no próprio homem e na sociedade e deve ser cultuada religiosamente e admirada.
Inicialmente, o
cientificismo serviu como propaganda da ciência e, graças a esse fenômeno às avessas, a ciência conseguiu se consolidar e se institucionalizar. Mas, na medida em que se constitui a comunidade científica, os objetivos vão se delimitando, aprimorando a pesquisa com métodos sempre mais precisos e rígidos, ao passo que os objetivos do cientificismo tornam-se sempre mais abrangentes e indefinidos, visto que para a contemplação e a admiração não há limites, daí resultando conseqüências sociais e tecnológicas desastrosas, estendendo para o homem a fórmula do determinismo universal. Ciência, baseada na livre criação; cientificismo, baseado no determinismo universal.
Sintetizando a evolução histórica do processo de consolidação do Ensino Superior no Brasil, podemos relembrar que cem anos depois da Independência o Brasil já dispunha de ensino profissional de nível superior do melhor padrão, colocando em pé de igualdade nossos médicos, engenheiros e juristas diante de profissionais semelhantes europeus. Nada os diferenciava; pelo contrário, nossos profissionais podiam apresentar contribuições significativas ao
patrimônio comum. Partindo dessa constatação e sendo incapazes de compreender a especificidade da missão universitária, os positivistas perguntavam: “ Universidade para que?” Impressionada com o exemplo da universidade alemã, consubstanciada como centro de formação humanista com destaque para a investigação científica, a geração que amadureceu nas primeiras décadas do século passado respondeu desta forma: “Para fazer ciência. A Universidade seve para fazer ciência”.
Acabada – como supunham os positivistas – e os brasileiros tinham condições de participar de sua elaboração.
Não é nosso intuito relatar aqui o processo que levou à consolidação dessas
idéias, tendo em vista a superação do cientificismo; processo que desembocou nas felizes experiências da Universidade do Distrito Federal, no Rio de janeiro; da Universidade de São Paulo e da Universidade de Brasília.
Hoje, o
cientificismo voltou a predominar nas instituições de ensino, sendo necessária uma redobrada motivação a fim de manter acesa essa chama do ideal da investigação científica tendo por base a cultura geral.
Evidencia–se aqui o papel desempenhado por academias nesse processo, à semelhança do que ocorreu com a Academia Brasileira de Ciências, fundada por Amoroso Costa, no Rio de Janeiro, em 1916.
Manoel Amoroso Costa (1885 – 1928), matemático brasileiro de nome internacional, formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, em 1906, obteve a cátedra em 1912, dando prosseguimento à tradição iniciada por Otto de Alencar, de combate à influência de Comte na matemática e na física. Através da mencionada academia, nos anos 20 consegue suplantar e isolar os partidários do Construtivismo, que se opunha á teoria da relatividade e, em geral, aos progressos registrados pela física e pela matemática no século XX.
“Amoroso Costa – afirma
Antonio Paim - defendeu a necessidade de uma filosofia da ciência que não aspirasse a construir-se em síntese das ciências particulares, como queria Comte, nem se perdesse em análises psicológicas do processo do conhecimento. Entendeu-a no sentido contemporâneo de epistemologia, isto é, como uma investigação acerca dos fundamentos da ciência, seu alcance seu valor objetivo. Inclinou-se por uma solução na linha estabelecida por Kant. (...) A seu ver, a mensagem imorredoura de Kant consiste em justificar a nosso confiança na ciência e a nossa fé na capacidade criadora do espírito”. (logos, verbete).
Pessoalmente, ao tomar posse da cadeira de número 26, na academia Brasileira de Filosofia, escolhi como patrono Amoroso Costa, cuja figura continua inspirando a postura
acadêmica aqui mencionada.
Quanto à Academia
Mourãoense de Filosofia, que reconhece méritos não só no campo da formação em filosofia, mas abre-se ao reconhecimento de méritos em outras áreas do saber, (sábia abertura!), sintetizo aqui nossa missão no dístico Ciência e Humanidades. Esta é vossa Missão: privilegiar a investigação científica e a formação humanista.

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